lunes, 12 de noviembre de 2018

Sobre a loucura

No palco escuro havia uma cesta. De dentro da cesta ouvimos uma voz, uma voz de uma mulher, uma mulher velha, pedindo para que a tirem de lá, pois precisa respirar, precisa se mover, precisa sair daquele lugar fechado. Uma mão de um homem destapa a cesta e a retira desse lugar escuro. Trás a mulher velha à luz, lhe dar vida. Parece até que a manipula. Mas não. Ela lhe toma a vida que lhe pertence e por um breve momento nos permite conhecê-la, nos permite viver com ela sua velhice, seus prazeres, suas dores. Nos faz rir, nos faz pensar. Nos emociona com sua presença. Mas, só por um breve momento, pois a mesma mão que a retira da cesta, agora quer que ela volte para dentro da cesta, que ela deixe de ser ela mesma e se resigne a este lugar que lhe cabe. Junto com ela dizemos não. Não volta, fica. Não permita que ele lhe faça isso. Mas aí ela nos lembra que ela é somente uma boneca, um ser sem vida e quem dar vida a ela é ele. E nos sentimos tão impotentes. Ela não. Ela com toda a sua dignidade de boneca, decide que sim, vai voltar pra cesta mas não porque ele assim o decide e sim porque ela assim o determina, assim o quer. E nós na platéia, ficamos pensando quem deu e dá vida a quem. Será que estamos todos loucos? 




Foto: acervo Sesi Bonecos do Mundo
Texto em homenagem ao espetáculo "A Velha" de Horácio Peralto/Bululu Teatro

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