Desde muito pequena aprendeu que para ver melhor, é preciso fechar os olhos. Quando o seu pai partiu, sempre que o queria ver, fechava seus olhos. Assim, com os olhos fechados, o via caminhando pela casa, brincando com ela, cozinhando para ela. Sendo com ela.
Naquela tarde nublada, caminhando só, por aquela cidade que não era sua, sentia uma necessidade quase vital de lembrar aquele homem que, como seu pai, esteve sempre presente em seus sonhos e completamente ausente em sua vida. Talvez essa necessidade lhe era tão urgente, por estar novamente em outro país, por sentir-se completamente estrangeira de si mesma. Precisava sentir alguém próximo a ela, nem que fosse por alguns minutos. Precisava.
Caminhou até o parque mais próximo, sentou-se diante do lago e fechou os olhos para olhar. Ele estava sentado do outro lado do lago, parecia ler um livro. Não. Ele escrevia poesia. A cada poesia que escrevia, fazia um aviãozinho com o papel e jogava em sua direção. Algumas lhe chegaram, outras caíram no lago e havia as que com a força do vento não conseguiram voar e ficavam ali com ele. Mas as que lhe chegaram eram tão lindas, tão verdadeiras, tão “Ele”, que ela sabia no mais profundo do seu ser, que sim, ela teve um pouco dele. Sim, era Ele que chegava a ela.
Permaneceu muito tempo assim, mirando-o de olhos fechados. Poderia ficar uma vida toda.Toda uma vida.
Mas algo lhe pedia para abrir os olhos, não entendia bem o que era, mas sentia. Sentia um desejo enorme de simplesmente abrir seus olhos. Ao abri-los, qual foi sua surpresa, ao ver, Ele, o homem, a sua frente de olhos fechados mirando-a.
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